Considerations on death in the Old Testament: similarities between Theology and Thanatology Sonia Sirtoli Färber*
Resumo
O conceito de morte na literatura veterotestamentária se fundamenta na consciência empírica a respeito da vida e das suas relações. O conhecimento revelado agrega novos elementos que, com o passar do tempo, vão se sedimentando, e dando origem a novos desdobramentos. Na antropologia semita o ser humano é corpo vivente, sem distinção de matéria e espírito, por isso, a morte põe fim à vida, e nada resta. A aproximação com o pensamento egípcio e grego cria possibilidade de nova interpretação: o ser humano é um todo psicossomático, dotado de corpo mortal e alma imortal; entrando em óbito, morre o corpo, não o espírito. A evolução deste pensamento não foi linear nem se tornou convenção. Teologia e Tanatologia fazem aproximações importantes na tentativa de desvendar o enigma humano. A Tanatologia presente nos relatos bíblicos projeta luz nos eventos e enaltece a vida e seu valor, e, o exercício de leitura tanatológica da Bíblia, provoca a discussão sobre o escopo do evento pascal como pedagogia e educação para a morte e o morrer. Palavras-chave: Tanatologia. Hermenêutica. Morte. Antigo Testamento. Abstract The concept of death in the Old Testament literature is based on empirical consciousness about life and relationship. The revealed knowledge adds new elements that over time, will sedimenting, and giving rise to new developments. In anthropology Semitic man is a living body, without distinction of matter and spirit, therefore, death puts an end to life, and nothing remains. The approach to the Egyptian and Greek thought creates the possibility of new interpretation: the human being is a psychosomatic whole, endowed with mortal body and immortal soul; entering death, the body dies, not the spirit. The evolution of this thinking was not straight or become convention. Anthropology and Thanatology approaches are important in trying to unravel the human enigma. The Thanatology present in biblical events and sheds light on the life and enhances its value, and the exercise of reading the Bible thanatological, provokes discussion about the scope of the Easter event as pedagogy and education for death and dying. Keywords: Thanatology. Hermeneutics. Death. Old Testament. * 1 Doutoranda em Teologia, Leitura e Ensino da Bíblia, pela EST, São Leopoldo-RS. Mestra em Teologia pela EST, São Leopoldo-RS. Bacharel em Teologia pela FAMIPAR, Cascavel-PR. Especialista em Docência do Ensino Superior, pela UNIPAN. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Membro da Rede Nacional de Tanatologia. O presente trabalho foi realizado com o apoio do CAPES. clafarber@uol.com.br O presente artigo está vinculado à monografia do curso de Doutorado sob o título de “Evolução do pensamento sobre a morte no Antigo Testamento”, orientada pelo Prof. Dr. Carlos Artur Dreher. CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADES EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 2012. | p.1053-1065 1054 Introdução A Tanatologia oferece princípios hermenêuticos importantes para a leitura bíblica, visto ser a morte elemento significativo do evento essencial da fé cristã - o evento pascal - uma leitura, decorrente deste acesso à Bíblia, pode ser capaz de deslindar aspectos pouco evidenciados nas leituras até então utilizadas. Nos livros bíblicos do Antigo Testamento está presente a relação existente entre a vida e a morte e, especialmente, a leitura que os aqueles sujeitos faziam destas realidades. Neste artigo fazemos destacamos a reflexão veterotestamentária sobre a morte e o fim, os conceitos, as crenças e a evolução do pensamento abarcando os escritos protocanônicos e deuterocanônicos. Morte e fim Nos escritos protocanônicos e pré-exílicos No conceito clássico de morte, no Antigo Testamento, parece não haver possibilidade de vida, seja em continuidade com a existência pregressa, seja em um novo estado de vida. Eclesiastes é paradigma desta impostação, na qual depois da morte não há recompensa (cf. Ecl 9,5), os que morrem não tem mais sentimentos, amor ou ódio (cf. Ecl 9,6), nem uso da razão, reflexão, sabedoria ou memória (cf. Ecl 9,6), também não há desenvolvimento, acréscimos ou quaisquer atividades (cf. Ecl 9,10). Consequente a essa noção “mais vale um cachorro vivo, que um leão morto” (Ecl 9,5). O autor do livro de Jó, tomado de indignação, vê a morte como inimiga invencível que acontece na vida de todas as pessoas, justas e injustas. Quem teve vida aprazível e feliz, mesmo que à custa da exploração dos outros, tem o mesmo destino que os justos e, ambos, não receberão retribuição por seus atos. Esta é a suma contradição para aqueles que vivem na justiça, por isso, o autor nega-se em aceitar qualquer explicação ou consolo. Uma pessoa chega à morte em pleno vigor, sempre tranqüila e próspera, com as ancas cobertas de gordura e com a medula dos ossos cheia de energia. Outra pessoa morre cheia de amargura, sem nunca ter provado a felicidade. Ambas se deitam juntas no pó, cobertas de vermes. Eu sei muito bem o que vocês estão pensando, e conheço os maus pensamentos que vocês remoem contra mim. Eu sei que vocês dizem: ‘Onde está a casa do poderoso, onde está a moradia dos injustos?’ Por que vocês não fazem perguntas aos viajantes e não acreditam no que eles dizem? O perverso é poupado no dia da catástrofe, e no dia da ira CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADES EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 2012. | p.1053-1065 1055 consegue escapar. Quem vai reprovar a conduta dele? Quem vai pedir contas do que ele fez? Ele será solenemente acompanhado à sepultura, montarão guarda no seu túmulo, e a terra será leve para ele. Todos os homens o acompanham e uma incontável multidão vai à frente dele. E vocês me querem consolar com banalidades? As respostas de vocês são pura tapeação. (Jó 21,22-34) Na segunda narrativa da criação da humanidade, aparece a correlação íntima entre o ser humano e a terra. O texto bíblico (cf. Gn 2,7), em hebraico, diz que o homem (ǎdām,) foi formado da terra (ǎdāmâ). Coopes1 apresenta esta aproximação transliterando o binômio homem/terra para ǎdām/ǎdāmâ, em alguns versículos paradigmáticos, para a compreensão da intenção do hagiógrafo. No princípio, Deus fez ǎdām da ǎdāmâ para lavrar a ǎdāmâ (Gn 3.23, para gerar a vida?). A ǎdāmâ era possessão de Deus e estava sob seu cuidado (Gn 2.6). Assim o primeiro ǎdām (o homem, Adão) e sua família deveriam agir como servos de Deus, obedecendo-lhe em manter o relacionamento vertical e horizontal divinamente criado e planejado. Enquanto esta condição foi preservada Deus fez que a ǎdāmâ desse seus frutos (bênção) a ǎdām. [...] Assim, vemos que ǎdām – ǎdāmâ estão profundamente envolvidos no modelo criação-queda-redenção. A origem do ser humano o conecta com o a terra e ordena a reflexão para uma hermenêutica planetária: homem e terra são realidades cooperantes e que trazem em si elementos um do outro. “Pois tu és pó e ao pó tornarás”, sintetiza o texto de Gn 4, 19b. Se fonte e vértice se encontram por ordem cósmica, ou se esta é a consequência da transitoriedade da vida humana, o texto não esclarece, afirma apenas que esta é a realidade que acontece a todo ǎdām: tornar-se um com a ǎdāmâ. A volta do homem ao pó e às cinzas reveste-se do caráter vindicativo divino para aqueles que não observaram seus estatutos, paradigma desta releitura é a narrativa sobre o fim de Menelau que foi morto ao ser jogado em um monte de cinzas. Aí existe uma torre de vinte e cinco metros de altura, cheia de cinzas, provida de máquina giratória inclinada de todos os lados em direção à cinza. Aí são jogados para a morte os condenados por roubo de coisas sagradas ou por outros crimes maiores. Foi dessa forma que Menelau encontrou a morte, sem merecer nem mesmo a terra da sepultura. E isso com plena justiça, pois ele tinha cometido muitos pecados contra o altar, onde não só o fogo, mas até a cinza é pura. E na cinza ele encontrou a morte. (2 Mc 13, 5-8) A noção de vida diluída e dissipada com a morte, entretanto, não foi capaz de excluir a sede de transcendência presente no ser humano e, mesmo quando um 1 COOPESS, Leonard J. Ǎdām. In: HARRIS, R. Laid; ARCHER Júnior, Gleason; WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. Tradução de Márcio Loureiro Redondo; Luiz A. T. Sayão; Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1998. p.14-15. CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADES EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 2012. | p.1053-1065 1056 autor, como o Coélet, apresenta este conceito deixa em aberto a suspeita de que Deus não criaria a vida para que ela caísse no nada. Coélet propõe nova semiótica da origem e da destinação no ser humano, enquanto o texto do Gênesis afirma: “Pois tu és pó e ao pó tornarás”(Gn 3, 19). Eclesiates acrescenta uma proposta de destinação, não apenas alternativa, mas que prevê o elemento espiritual autônomo e independente do físico. Não corpo vivificado, mas vida composta de corpo e espírito. O elemento material volta ao nada, desaparecendo na terra, o elemento espiritual volta para Deus, sentencia o Coélet: “Então o pó volta para a terra de onde veio, e o sopro vital retorna para Deus que o concedeu”(Ecl 12,7). No texto Massorético aparece esta construção gramatical, que foi mantida pela Septuaginta, podendo demonstrar que o pensamento semita e a influência grega, no escrito e na tradução, não são excludentes entre si. Teria o pensamento grego influenciado a visão escatológica antes mesmo da época helenista clássica, dos dois últimos séculos a.C.? A presença deste texto aponta nesta direção. Corroboram com esta intuição não só textos deuterocanônicos, mas é possível encontrar pontos de contato entre estes e os protocanônicos, como acontece com a narrativa acerca de Samuel e a pitonisa de Endor. O autor sublinha que “Samuel tinha morrido. Todo o Israel participara dos funerais, e o enterraram em Ramá, sua cidade”(1Sm 28, 3a). Apesar disso Saul, através da pitonisa, entra em contato com ele (1Sm 28,11-17). O autor do livro de Eclesiástico reafirma o fato registrado em 1 Samuel. A repetição do evento em livros de épocas e gêneros literários diferentes, protocanônicos e deuterocanônicos, compilados no TM e na LXX, apontam para o consenso e a aceitação desse conteúdo, ao mesmo tempo em que o legitima, autoriza-o. Mesmo depois de sua morte, ele profetizou, predizendo ao rei o seu fim. Mesmo do sepulcro, ele levantou a voz, numa profecia, para apagar a injustiça do povo. (Eclo 46, 20) Mais tarde o autor de 1Crônicas atribuirá a morte de Saul ao fato de ele ter recorrido aos mortos e não a Deus em busca de ajuda, entretanto o texto não nega a possibilidade de acontecer a comunicação entre os vivos e os mortos, ainda que isso seja reprovável na moral religiosa judaica do Antigo Testamento. Saul morreu por ter sido infiel a Javé: não seguiu a ordem de Javé e foi consultar uma mulher que invocava os mortos, em vez de consultar a Javé. Então Javé o entregou à morte e passou o reinado para Davi, filho de Jessé. (1Cr 10, 13-14) CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADES EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 2012. | p.1053-1065 1057 Outra citação, que contraria a noção da volta à inexistência com a morte, foi escrita, aproximadamente, no ano 450 a.C., época de Esdras e Neemias,2 encontrase no livro de Rute: “Que ele seja abençoado por Javé, que não deixa de ter misericórdia pelos vivos e pelos mortos.” (Rt 2, 20 grifo nosso) As palavras deste versículo não são conclusivas acerca de uma noção intermediária sobre a morte, no Antigo Testamento. Até então, temos a visão clássica que nega a possibilidade de vida pós-morte e a helenista e deuterocanônica que distingue elemento espiritual e elemento material na constituição humana e postula que mortal é o corpo, mas a alma sobrevive à morte. Encontrar um meiotermo é tarefa rutiana de respigar, selecionar e recolher. Seguindo esta lógica podemos supor que se levantem três elementos em oposição à ideia de ser o texto uma transição de pensamento sobre a morte. Primeiramente, poderá a expressão “os vivos e os mortos” receber sentido de afirmação da misericórdia divina, que alcança aquele que sofre e que faz justiça, até mesmo, aos que já morreram. Neste caso a ação misericordiosa seria a aplicação da lei do levirato, na qual Boaz assume o papel de go’el. Sendo por justiça à memória do que morreu, ou seja, pelo morto, ainda se beneficiar da ação divina, o texto é claro: a ação de Deus não exclui os mortos, ao contrário, ela os alcança. Em segundo lugar poderia objetar que, pela lei do levirato, o filho que nasce de Rute e Boaz dá descendência à Maalon e posteridade ao seu nome. Porém, os textos, tanto o Massorético quanto a Septuaginta, não fazem menção à memoria do morto, e, sim, à pessoa do morto, colocando-o em igualdade com os vivos. Finalmente, é possível dar interpretações diversas ao versículo, a partir do enfoque do leitor e do pesquisador, basta eleger uma palavra ou termo, o que é legítimo, mas não exclui a possibilidade de uma leitura escatológica do texto. Neste versículo, Carlos Mesters3 destaca a esperança, o direito de resgate e o louvor a Deus; Crocetti4 sublinha a palavra hesed, e entende que Boaz demonstra benevolência, solidariedade e fidelidade como reflexos da ação de Deus. Porém, ambos silenciam quanto à expressão “pelos vivos e pelos mortos”. No texto de Jó, também, aparecem indícios de noção intermediária sobre a morte, no Antigo Testamento. 2 MESTERS, Carlos. Rute. Uma história da Bíblia. São Paulo: Paulinas, 1985. p. 18. 3 MESTERS. São Paulo, 1985. p. 53-54. 4 CROCETTI, Giuseppe. Josué, Juízes e Rute. Tradução de Luiz João Gaio. São Paulo: Paulinas, 1985. p. 186. CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADES EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 2012. | p.1053-1065 1058 Oxalá me guardasses escondido no túmulo, até que passasse a tua ira e marcasses um prazo para te lembrares de mim! Quando morre, o homem poderá talvez reviver? Eu ficaria esperando durante todos os dias do meu serviço, até que chegasse a hora da mudança de turno; com saudade da obra de tuas mãos, tu me chamarias e eu responderia. Então tu não controlarias mais os meus passos e não vigiarias os meus pecados. Fecharias num saco os meus erros e passarias cal sobre as minhas culpas. (Jó 14,13-17) A questão levantada por Jó “o homem poderá talvez reviver?”, é pergunta retórica ou a contracultura da hermenêutica da morte ensaia manifestar-se? O texto está fincado na estrutura do pensamento clássico da morte: morre e acaba tudo. Apesar disso, Jó apresenta uma questão - absurda para o seu tempo-, mas que “se revelará profética baseada na convicção que a ira destrutiva não pode ser a última palavra de Deus para a obra de suas mãos”.5 (tradução nossa) Se retrocedermos até o versículo 12, outra questão emerge nesta perícope: o texto parece receber influência do pensamento grego, ao analisar particularizadamente alguns vocábulos e reagrupando-os por campo semântico. 12 a;nqrwpoj de. koimhqei.j ouv mh. avnasth/| e[wj a 'n o` ouvrano.j ouv mh. surrafh/| kai. ouvk evxupnisqh,sontai evx u [pnou auvtw/n 13 eiv ga .r o;felon evn a [|dh| me evfu,laxaj e;kruyaj de, me e[wj a 'n pau,shtai, sou h` o vrgh. kai . ta,xh| moi cro,non evn w-| mnei,an mou poih,sh| 14 e va .n ga .r a vpoqa,nh| a ;nqrwpoj zh,setai suntele,saj h`me,raj tou/ bi,ou auvtou/ u`pomenw/ e[wj a 'n pa ,lin ge,nwmai Pinçando uma palavra, de cada um dos versículos de 12 a 14, encontramos referências aos três deuses da mitologia grega relacionados com o imaginário helênico sobre a morte. O mito grego diz que Qa,natoj (morte) é irmão gêmeo de U[pnoj (sono), e que tem a função levar os a ;nqrwpoi (homens) para a região dos mortos; enquanto que cro,noj (tempo) é o titã que matou seus filhos, devorando-os um a um. No texto da Septuaginta estes vocábulos são, facilmente, identificáveis pelo fato de serem idênticos aos nomes dos deuses. Entretanto, este não é um artifício do tradutor grego, pois, analisando em sinopse encontramos vocábulos similares a esses na língua hebraica, demonstrando assim, que estas palavras estão presentes no original, ou no texto mais antigo, validando a hipótese de ter o texto hebraico recebido influência do pensamento grego. 5 “Si rivelerà uma intuizione profetica, busata sulla convinzione che l’ira distruttiva non può esse l’ultima parola di Dio per l’opera delle sue mani.”. VIRGULIN, Stefano. Giobbe. Roma: Pauline, 1984. p. 127. CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADES EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 2012. | p.1053-1065 1059 A reanimação de um cadáver decorrente do simples tocar nos ossos de Eliseu pode, também, ser indício da evolução do pensamento sobre a morte e a ressureição. Eliseu morreu e foi enterrado. Todos os anos, bandos moabitas faziam incursões no país. Certa vez, alguns homens que estavam enterrando um morto avistaram um desses bandos. Jogaram o corpo dentro do túmulo de Eliseu e foram embora. Aconteceu que o corpo, tocando os ossos de Eliseu, reviveu e se colocou de pé. (2Rs 13, 20-21) Apesar disso, o pensamento clássico e tradicional veterotestamentário pré- exílico e os escritos protocanônicos apresentam a morte como fim, por este evento a vida encontra seu término do qual não há retorno. Nos escritos deuterocanônicos e pós-exílicos A presença de conceitos deuterocanônicos, pseudoepígrafos e apócrifos na linguagem e na prática religiosa das comunidades, que têm a Bíblia como Sagrada Escritura, são notáveis. Alguns desses conceitos foram introjetados pela proximidade de linguagem, outros por expressarem as realidades presentes no imaginário religioso do grupo e, uma parcela significativa, por terem sido assimilados e assumidos como a expressão da verdade, como lembra Ariès: O Quarto Livro de Esdras é um apócrifo latino do primeiro século da nossa era. Foi rejeitado pela Igreja e excluído da Vulgata. Isto não impede que a liturgia, reveladora de uma prática comum, lhe tenha tomado emprestado o admirável versículo que sempre se cantava nos ofícios dos mortos: Réquiem ætérnam dona eis, Dómine, et lux perpétua lúceat eis.6 A Igreja Católica assume o conjunto todo de IV Esdras II, 34-35 incluindo a parte “Requiem ætérnam dona eis, Domine, Et lux perpetua luceat eis Riquiescant in pace. Amen.” 7 Traduzindo: “Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno. E a luz perpétua os ilumine. Descansem em paz. Amém.”. Ambrósio utiliza várias passagens do IV 6 ARIÈS, Philippe. Uma antiga concepção do além. In: BRAET, Herman; VERBEKE, Werner (Ed.). A Morte na Idade Média. Tradução de Heitor Megale; Yara Franteschi Vieira; Maria Clara Cescato. São Paulo: EDUSP, 1996. p. 80. Cf. ROCHA, Diego Andrés. El origen de los índios. Sevilla: Espuela de Plata, 2006. p. 173. 7 Disponível em: